Dacia Duster ECO-G 100 Bi-Fuel – O automóvel mais interessante do momento. Uma pena o seu preço
Numa altura que a transição energética é bem mais do que uma necessidade ou obrigatoriedade, sendo já, na verdade, uma realidade, uma coisa ainda não transitou: os preços dos automóveis electrificados. O custo da energia dos carregamentos, esse sim, já mudou. Para cima. Mas os preços dos automóveis eléctricos, ou até mesmo híbridos, não são para todas as carteiras. Vou ainda mais longe: comprar um automóvel novo, em Portugal, é muito caro para um português.
Outra transição há muito terminada – e outra que lamento, ainda para mais quando esta nada tem de necessário ou benéfico para o ambiente – foi a mudança, quase por inteiro, para carroçarias SUV. Uma moda, uma tendência ou outra qualquer coisa que não sei bem explicar, os SUV vieram para ficar, mesmo que pouco ou nada acrescentem aos formatos mais usuais que estão agora a quase desaparecer. Acrescentam estilo, a quem o aprecia, mas adicionam peso, pneus mais largos e uma aerodinâmica menos eficiente do que um comum hatckback ou berlina, sem adicionarem um maior sentido prático ou liberdade de utilização.
Faz tudo?
Haverá, então, uma proposta que consiga responder a isto tudo? Com um motor que, ainda que por electrificar, exprima alguma preocupação adicional para com as emissões? Um modelo que tem a tão apreciada silhueta de um moderno SUV, mas que seja efectivamente prático e consiga percorrer caminhos onde um mais convencional compacto deixaria caída a sua panela de escape? E que, por fim – e provavelmente de maior importância e valor do que todas estas características – não tenha um preço inatingível pelo comum dos condutores portugueses?
O Duster é apenas mais um nome de sucesso na história de sucesso da Dacia. O Sandero é outro exemplo e algo me diz que o puramente eléctrico Spring é o próximo na lista. Saberemos em breve, o que vale e se vai, ou não, tornar-se um sucesso. Mas o bem-sucedido Duster está diferente. Está sempre a evoluir. Está “mais carro”, uma expressão pouco definida, mas que todos entendemos. O Duster pisa o asfalto de uma forma diferente, mais filtrada e mais “crescida” do que o Duster de outros tempos. O comportamento é muito são, apesar do adornar de carroçaria, e quer a posição de condução, quer a resposta da direcção, pontos que outrora não me agradavam, evoluíram e têm vindo a ficar melhores. O nível de conforto é bastante bom e o espaço a bordo, bem como na bagageira, são surpreendentes considerando as suas dimensões exteriores.
Canhão
Na gama Duster há três níveis de equipamento, Essential, Comfort e Prestige, este último, o mais recheado e aquele aplicado no “meu”. O preço base do Duster é de 14.400 €, estando este Prestige disponível a partir de 18.100 €. O preço é “canhão”, por isso não me venham falar de plásticos rijos. É uma discussão que já não faz sentido. Também gostava de ir à mercearia comprar meia-dúzia de ovos e um deles ser de uma “galinha Fabergé”. Nunca aconteceu. Por cerca de 15 mil euros, tablier e forros das portas são em plástico. Rijo. Como deve ser.
Mas depois olhas para a lista de equipamento deste Prestige Bi-Fuel, com preço base de 18.550 € e vês elementos como as jantes de 17 polegadas, o assistente de travagem, o alerta de ângulo morto, o ar condicionado automático, o cruise control e o sistema multimédia com navegação e integração Android Auto/Apple Car Play sem fios. Adicionas a estupenda cor Laranja Arizona, o acesso e arranque mãos-livres e as quatro câmaras exteriores e ainda assim o preço fica-se pelos 19.500 €. Imbatível.
Gasta mais, mas gasta menos
Passando ao motor ECO-G, é um 1.0 litros, sobrealimentado, a gasolina, mas igualmente capaz de consumir GPL, reduzindo custos e as emissões. A autonomia combinada de cerca de 1100 quilómetros é surpreendente e as outrora mais notórias diferenças quando se optava por queimar gás no lugar da gasolina são, actualmente, quase imperceptíveis. O motor fica insignificantemente mais áspero e as acelerações/recuperações ligeiramente mais lentas. Perdes umas décimas por volta nos track days. Paciência.
Para comparar consumos, fiz o mesmo percurso duas vezes, em condições em tudo idênticas. Um pequeno percurso misto com cerca de 15 quilómetros, a uma média de 50 km/h. O computador de bordo do Duster mostrou médias de 6,6 e 8,6 lt/100 km para a gasolina e para o GPL, respectivamente. Uma diferença de cerca de 30%. No posto de abastecimento com GPL mais perto da minha casa, este custa 0,93 €/lt e a gasolina sem chumbo 95 simples custa 1,77 €/lt. Façam as contas. Eu fiz. E posso dizer que no final do ensaio, com médias mais reais, se assim quiserem, com mais quilómetros acumulados e uma velocidade média inferior, as médias finais foram 7,9 e 9,4 lt/100 km. São cerca de 14 € para fazer 100 km “a gasolina” e menos de 9 € se o fizer clicando no botão “LPG” no tablier. Continua a compensar e de que maneira.
E defeitos, não tem? Tem, claro. Um deles é o preço.
Ficam assim respondidas as perguntas que escrevi algures acima neste artigo. Esse automóvel, para tudo aquilo que perguntei, parece existir. Para as pessoas que não podem ter um eléctrico, mas que querem reduzir custos de utilização e emissões. Bem como para os que são aventureiros e rebeldes, e igualmente para aqueles que não o são, mas querem parecer que o são. Também para os que querem um automóvel prático e com uma grande bagageira. E para os que, pontualmente, ou quase nunca, precisam de um veículo que não tenha medo de sair do alcatrão. O Duster faz isso tudo e são já muitos os condutores que o viram e aderiram ao “movimento Dacia Duster”. Faltam os outros…
E sobre esses outros, é realmente uma pena que uma proposta tão boa e honesta como esta seja tão barata, mesmo na realidade fiscal portuguesa. Porque os outros que faltam convencer, os outros que ainda não viram o seu valor, que não conseguem ver para além do símbolo e do preço baixo que este muito completo automóvel custa, parece que não o querem, pura e simplesmente por ser barato. “E quando a esmola é muita, o pobre desconfia”, já alguém o disse. Mas se o Duster fosse mais caro, muito provavelmente venderia menos. Ou então não. Venderia mais. Continuaria a ter um preço correcto, considerando o que oferece, e assim já os outros perdiam a vergonha, ou o medo (“não é medo, é receio, vá…”), de comprar um automóvel novo tão barato. Um grande automóvel para quem não tem a mania das grandezas, perdoem-me a franqueza.