Rover 100: o esquecido herdeiro do Mini original
O Rover 100 é mais um excelente exemplo de que os automóveis actuais estão exageradamente grandes. Até os mais pequenos estão grandes. Sim, já todos vimos o vídeo do crash test do Euro NCAP em que o pequeno 100 é reduzido a um 10, pelo que entendo que os utilitários mais actuais, indiscutivelmente mais seguros, sejam maiores e mais pesados. E agradeço por isso, claro. Mas tenho saudades de automóveis pequenos por fora e relativamente espaçosos por dentro. Mais ainda depois de ter conduzido um pequeno Rover 100, pequeno por fora e surpreendentemente folgado por dentro. Fiquei a gostar ainda mais de um modelo com o qual já simpatizava, mas que nunca tinha conduzido. Mas antes de relatar um pouco do que foi conduzi-lo, um pouco de contexto histórico é essencial.
Do projecto AR6 ao mais em conta R6
Muitos consideram os novos Mini da era BMW – bons exemplos do que acima descrevi, um nome Mini, tal como o interior, mas um exterior mais para o Maxi – como os verdadeiros herdeiros da herança do Mini original, de Alec Issigonis. Gosto dos “novos” Mini, claro que sim. Gosto bastante, na verdade. E concordo que são uma bonita e fiel homenagem ao velhinho lançado em 1959. Mas o herdeiro esquecido, aquele irmão mais afastado que raramente aparece nos almoços de família, mal visto porque levou uma vida mais inconstante e despreocupada, mas que é, tanto como os outros irmãos, da família, esse é o Rover 100, o substituto do Metro de 1980 que por sua vez substituiu o Mini. O novo 100, lançado em 1990, manteve, no entanto, a designação Metro no mercado britânico.
O Rover 100 esteve, porém, para ser um automóvel integralmente novo, o resultado do projecto AR6 iniciado em 1984, para ser lançado a par da nova família de motores K-Series, mas a instabilidade financeira e de confiança no seio da Austin Rover, sob constante pressão governamental para obtenção de lucros, obrigou a uma alteração de planos e a optar-se por uma solução que exigisse um menor investimento, baseada no, então, Metro actual. O caro e integralmente novo projecto AR6 seria, assim, encostado em 1987. O novo Metro – 100 nos mercados de exportação, relembro – equipado com os novos motores K-Series, teve assim luz verde, perdendo o “A” e recebendo a designação interna R6.
Mudar apenas onde for essencial
Mantendo a plataforma utilizada pelo Metro, o cofre do motor do novo Rover 100 teria de ser capaz de acomodar o novo motor K-Series, bem como a transmissão (de origem PSA), colocada a seu lado e não por baixo como no reformado motor A-Series. Ao nível da suspensão, ficou decidido melhorar o inovador sistema Hydragas interligando os elementos da suspensão dianteira e traseira, o mais recente desenvolvimento feito pelo seu inventor Alex Moulton e o caminho ideal para melhorar a oferta, mantendo os custos relativamente contidos, tal como exigido “pelo piso de cima”. As vias foram igualmente alargadas e o reposicionamento do eixo dianteiro permitiu ainda modificar ligeiramente a posição de condução, agora mais confortável do que no primeiro Metro. Já perto do final da sua carreira, foi ainda alvo de uma actualização – perdendo a designação Metro no seu mercado doméstico – onde ganhou uma nova grelha e faróis redesenhados.
O 111 SLi “GB”, na cor certa
E foi exactamente um destes últimos Rover 100 que tive oportunidade de conduzir. Um 111 SLi, verde escuro e com “matrícula Great Britain”, embora nacional. Como disse mais acima, tenho saudades de automóveis verdadeiramente pequenos. Foi por isso um gosto estar ao volante de algo assim, tão compacto, fácil de guiar e de estacionar, mas que em momento algum me fez sentir apertado, a precisar de mais espaço. Aliás, a grande quantidade de vidro e os pilares finos transmitem mesmo uma sensação arejada e de liberdade que muitos modelos maiores simplesmente não conseguem igualar. E sendo pequeno é, obviamente, leve. E sendo leve, não precisa de um motor muito potente para ter aquela tão apreciada genica para andar na cidade.
O pequeno 1.1 litros de 60 cavalos e a caixa de 5 velocidades estão, assim, à altura dos ritmos praticados na cidade e nas voltinhas do dia-a-dia, revelando até uma agradável disponibilidade a baixa rotação que não esperava encontrar neste 111 que esteve durante vários anos esquecido, ao abandono. Foi, felizmente, salvo de um final triste e está aí para as curvas, com a suspensão Hydragas integralmente revista a mostrar que mesmo sendo uma tecnologia antiga, sabe também lidar com os buracos do século XXI, mantendo um nível de conforto muito bom, algo difícil de conseguir, ainda hoje, num automóvel pequeno e leve. É efectivamente uma pena que o desenvolvimento da suspensão Hydragas – Hydrolastic na sua primeira interpretação – não tenha prosseguido, pois provou a sua eficácia e o seu total potencial ficou, provavelmente, por explorar. E tal como o simples (depois de alguém se ter lembrado), mas eficaz conceito de suspensão de Alex Moulton, é igualmente uma pena que actualmente não possamos ter mais citadinos como o Rover 100. Simples, também, mas com personalidade. Ah, e pequenos, exactamente como um citadino deve ser.
Agradecimento: José Carlos Magalhães