Audi Q2 35 TFSI – sim, mas em versão simples, por favor
O crossover familiar compacto Audi Q2 que testámos tinha muita coisa a mais. Coisas que o encarecem e que tapam o que de melhor tem: a sua simplicidade.
Comecei por não gostar muito deste Audi Q2. Assim à primeira vista, estava com um visual muito… vá, kitcsch, na falta de melhor palavra. Não quero dizer brega, até porque não era e já vão perceber porquê. A cor Cinza Flecha até que não é má. Tem um ar meio pastel, mas ao mesmo tempo faz parecer um metal todo aeroespacial. Só que a versão deste Audi Q2 que testei era a Edition One, o que, para além de incrementar o preço em quase 8.000€ (para um total de quase 45.000€), inclui jantes de 19 polegadas em preto com o aro exterior em cromado, pinças de travão pintadas em vermelho e as grelhas e os detalhes que normalmente estão em cromado estão, aqui, em preto.
Até aqui pronto, até não está mal de todo. Mas, depois, espetaram um decalque em vinil com o símbolo do modelo a atravessar as portas laterais de um lado ao outro. Eish! Não combina. O símbolo da Audi no pilar C fica muito bem. Gosto. Mas o vinil na lateral, assim em grande, não convence. Para quê dizer ao mundo todo, num vinil, “olhem para mim, sou um Audi Q2”? E depois com todo o restante equipamento que também não passa nada despercebido.
Eu entendo: é um statement. É uma versão a celebrar a primeira edição. É orgulho, etc. Mas é a Audi. Devia ser mais sóbria. Sempre primaram por isso. Uma Audi RS6, tirando as jantes do tamanho de uma mesa de café, mal se dá por ela. E é esse efeito sleeper que sempre agradou aos clientes Audi.
35 TFSI?
O motor é o conhecido 1.5 litros, turbo, com 150 cavalos, do grupo VW. Mas a Audi agora faz esta coisa de nomear os seus motores com números que não fazem muito sentido. Já toda a gente deu os seus “five cents“, por isso vou só dar também mais uns. Os senhores da oficina da minha rua disseram que os números não fazem muito sentido. “Quem vê pensa que é um 3 litros e meio! ehehe”.
A Audi não o fez para isso. Não quer enganar ninguém. Fê-lo porque quis simplificar, daí que é mais fácil classificar as motorizações com números crescentes consoantes o tamanho e potência. Podes não perceber que um 2.0 TDI é um 2 litros a gasóleo – com várias versões de potência – mas entendes que 40 TDI é maior que 35 TDI. Simples.
Voltando ao motor, achei-o bom. Nem muito nem pouco. A potência de 150 cavalos e o binário de 250 Nm disponíveis entre as 1500 e as 3250 rotações são suficientes para 218 km/h de velocidade máxima e um sprint de 8,6 segundos. Apesar destes valores – que pouco interessam num crossover – a disponibilidade do motor é bastante boa. É competente nas reduções e acelera progressivamente e até com alguma força, embora a caixa automática S Tronic de dupla embraiagem, que é muito boa e quase impercetível nas passagens, não pareça querer ser muito desportiva. Se puxarmos um pouco mais por ela, torna-se ligeiramente hesitante. Se passarmos para o modo de condução sport isto quase que se elimina, mas convenhamos, quem compra um Q2 quer uma utilização despreocupada e sem estar a pensar que precisa de alterar modos de condução.
Por dentro
Não tem o interior actualizado e modernizado dos novos modelos, mas isso até pode ser bom. Primeiro, porque temos botões, especialmente para a climatização. É tão boa a sensação de precisarmos de uma coisa e ela estar no mesmo sítio e da mesma forma, sem precisar de tocar em painéis sensíveis ao toque sem fazer ideia do que é que estamos a fazer. Tem botões! Rodinhas com uma sensação de qualidade e robustez incrível e que, rodando, conseguimos com a maior precisão, ajustar o que quer que seja que precisamos.
O infoentretenimento, por outro lado, está desactualizado. Não é mau, até porque nunca o foi, mas não é o novo; e o novo é muito bom. Temos a “rodinha” na consola central para o comandar e é bastante intuitivo. Simples, com poucos menus, mas não é o novo; e o novo é muito bom.
A qualidade de construção é muito boa. Nada abana, nada tem aquela sensação “oca”, está tudo muito bem insonorizado e os botões e manípulos têm uma robustez e fluidez fantásticos. Já nos materiais, o caso é um pouco diferente. São bons, naturalmente, mas não tão bons quanto estaria à espera, especialmente tendo em conta o preço base a partir de 31.000€ para o 30 TFSI com 110 cavalos num motor de 1 litro. Na minha opinião podiam ter usado um pouco mais de plástico macio, especialmente na consola central.
Condução
Nunca vou perceber porque é que alguém quer saber como se comporta um crossover ao nível da condução, especialmente um crossover familiar compacto que por um triz não é só um compacto. O carro tem espaço, sim, mas não é o ponto forte. Cabem 4 pessoas com conforto – a suspensão ajuda muito neste aspecto, apesar das jantes de 19 polegadas – e transporta umas quantas malas. Não muito, mas o suficiente para uma viagem de poucos dias.
Ah, sim, a condução. Tem de ser, não é verdade? Bem, a condução até surpreende. Não é claramente o que te interessa, senão não estavas a ler um teste a um Audi Q2, mas até surpreende. Boa posição de condução, a direcção responde bem apesar de não ser super comunicativa. Tem um sistema de desmultiplicação que faz com que não seja necessário virar tanto o volante para virar o carro, e isso ajuda na dinâmica. As jantes de 19 também, já que o chassis não foi a preocupação da marca. Lá está, não é para isso que isto foi feito.
É competente, sim, especialmente com este motor e esta caixa de velocidades, e ataca as curvas com coragem. Mas não muita, porque não é para isso que isto foi feito. O volante é bom mas dá a sensação que é grande demais. Não sei se é pelo carro ser pequeno ou se é o volante que é mesmo grande.
Simples, por favor
A conclusão – e por isso é que no início disse que a palavra que procurava não era brega e já iam perceber porquê – é que este Audi Q2, numa versão mais simples, sem vinis ou jantes need for speed não sei quê, é um carro muito fixe. Tem um visual que convence ao fim de uns dias – não sei se é bom ou mau, mas convence e isso é que importa – e é confortável de conduzir. É quase prático, digamos. Tem um design algo irreverente para um segmento que normalmente é “fofinho” e, numa motorização mais singela, digamos, a 30 TFSI, é um carro muito capaz. Qualidade, conforto e status, naturalmente, por um preço que se adequa.