Ford Puma ST: Quatro dias de estágio no escritório de Sébastien Loeb
Não resisti e voltei a pedir à Ford o Puma ST. Sim, eu nem sou o maior fã de crossovers, mas tenho um carinho especial pelo Puma. Se me quiserem perceber melhor, cliquem aqui e recordem o meu ensaio. É um crossover com uma abordagem diferente, a abordagem Ford, focada nos condutores que gostam efectivamente de conduzir. Aviso que este não é um artigo patrocinado, mas sim, parece. Eu sei que parece. Porque não lhe vou apontar defeitos. Na verdade, são poucos ou nenhuns. Mas também porque todos os Puma são dinâmicos, envolventes e divertidos, capazes de deixar o seu condutor com um sorriso na cara. Mas se todos os Puma são dinâmicos, o Puma ST eleva, e muito, a fasquia. E se o Puma ST eleva a fasquia, o que dizer do novo Puma Hybrid Rally1, a nova arma da Ford para o mundo dos ralis, principalmente se ao volante estiver Sébastien Loeb.
Como fã de ralis, é impossível não ser fã da Ford. E, obviamente, de Monsieur Loeb. Preferências e “pancadas” à parte, todos temos os nossos nomes preferidos no WRC, mas, concordemos ou não, Loeb é, muito provavelmente, o melhor piloto de ralis de sempre. Só outro Sébastien lhe fez – e faz – frente, Ogier. Admito que não sou o maior entendido na matéria, mas Loeb redefiniu a forma de conduzir um carro de ralis, com perícia, precisão, frieza e rapidez que lhe valeram nove títulos consecutivos de campeão do mundo. Os resultados falam por si, mas com quase 50 anos, Loeb não dá sinais de querer “arrumar as botas”.
Um piloto versátil, com experiência em inúmeras disciplinas do desporto automóvel, que depois de ter terminado o Rally Dakar de 2022 no segundo lugar, saltou para o habitáculo do novíssimo Ford Puma Hybrid Rally1 da equipa M-Sport e venceu, aos 47 anos, o icónico e sempre imprevisível Rali de Monte Carlo, batendo novos recordes ao conquistar a sua 80º vitória no WRC e ao tornar-se, igualmente, no piloto mais velho a conquistar uma prova pontuável para o campeonato do mundo, assumindo-se, ainda, como o primeiro vencedor de sempre da era híbrida do WRC. O recorde de vitórias em Monte Carlo é, também, de Loeb: e vão 8!

E embora nem todos o admitamos, muitos de nós já nos imaginámos na pele dos nossos heróis. Quem nunca se imaginou de smoking ao volante de um sublime DB5 numa contorcida serpente negra nos Alpes que atire a primeira pedra. Eu já. E, da mesma forma, de uma tela de cinema para a lama de uma floresta húmida ou para o asfalto quente de um qualquer circuito, o mesmo se passa com o mundo da competição automóvel. Na Fórmula 1, de Stewart a Senna, ou, nos ralis, com nomes como Alen ou McRae, apenas para enumerar alguns, todos temos os nossos heróis. Loeb é um dos meus e assim, depois da vitória em Monte Carlo, não me consegui controlar e decidi “vestir o fato de piloto” uma vez mais e lançar-me de Puma ST às minhas curvas de eleição.
Procurei, desta vez, explorar o Puma ST de outra forma. Queria desfrutar das suas capacidades e das sensações proporcionadas, mais do que preocupar-me em testar, novamente, tudo o que tem para oferecer e assim compará-lo outros modelos. No fundo, quis ser Loeb por uns dias, o que, considerando a minha experiência, coragem e talento limitados, só seria possível ao volante do ST. Loeb é um piloto de capacidades únicas, cuja habilidade ao volante lhe valeu escrever, de forma definitiva, o seu nome na história global do desporto motorizado, que não fiquem dúvidas disso. Mas, por outro lado, pouco me importa se uma curva que eu faço a 80 km/h no ST, Loeb faria a 120 km/h para lá dos limites da aderência, jogando com isso a seu favor. Nem consigo, obviamente, imaginar a velocidade a que a faria no seu muito especial Puma de ralis. O que me importa é a forma como o Puma ST, a um ritmo bastante inferior, me aproxima da realidade da Loeb, aquela que eu gostaria de, por momentos, viver.
É claro que a velocidade desempenha um papel importante nesta procura por momentos de condução mais recompensadores, quando me deixo absorver pela sua vertente mais emocional, atrasando travagens e antecipando acelerações, tentando manter um ritmo mais despachado, ao mesmo tempo que vou lendo a estrada e as reacções do chassis do Puma. E que chassis este, que agilidade, que intensidade, diga-se. Mas, ao mesmo tempo, a velocidade pouca relevância tem. Estas são simplesmente incomparáveis e o que mais conta para mim, é aquilo que este Puma nos consegue transmitir e fazer sentir. Faz-nos ser rápidos, ainda que lentos, bem como especiais, ainda que vulgares. E porquê? Porque o Puma ST não gosta de ser lento e simplesmente não consegue ser vulgar.
O “Imperador Loeb” já não tinha nada a provar, mas depois desta sua mais recente vitória no Puma, a velha máxima “Veni, vidi, vici” nunca foi tão bem aplicada desde que Júlio César a proferiu depois de derrotar um seu inimigo em batalha, o Reino do Ponto, ainda os anos eram precedidos da sigla AC. Também a Ford tem um longo e rico currículo de grandes carros de rali, linhagem da qual fazem parte, num passado bem mais recente, o eterno Escort, o Focus e o Fiesta e à qual se junta agora esta nova interpretação do nome Puma em formato crossover. Não sei até quando vamos ter automóveis assim à nossa disposição. Daqueles que nos levam a Monte Carlo em menos de nada, ainda que estejamos a milhares de quilómetros de distância, e daqueles que nos coloquem na pele de Loeb, ainda que estejamos a anos-luz das suas capacidades.