Honda CR-V 2.0 HEV Black Edition – Sair em grande
A atual geração do Honda CR-V pode até estar em final de carreira, mas apesar dos bons anos de serviço, este bestseller além-fronteiras mostrou, em várias aspetos, por que razão é um modelo tão apreciado noutros mercados. Quantos CR-V vês, num mês, em Portugal? Pois. Poucos ou nenhum. Porém, em 2022, foi o 6º modelo mais vendido nos Estados Unidos da América com quase 240 mil unidades, tendo sido batido por três pick-up dos “Big Three” e por um par de modelos Toyota. O CR-V é um sucesso.


Só para alguns
O design é, no mínimo, diferenciador. Já por cá anda há algum tempo e, admito, mantém-se atual, mas é uma daquelas abordagens estéticas que pode não funcionar aos olhos dos condutores que apreciam um estilo mais conservador. À frente e quando visto de perfil, é um design relativamente fácil de agradar, mas a traseira exige mais habituação, principalmente devido ao design da iluminação. Neste CR-V Black Edition, apreciei a combinação “ameaçadora” da cor de carroçaria com as jantes pretas de 18 polegadas.
Materiais: assim, assim
Por dentro, de uma maneira geral, as notícias são boas, muito boas, até, quando passarmos à análise da habitabilidade. Mas no acolhedor habitáculo senti falta de alguma homogeneidade, quer na escolha de materiais, quer ao nível das soluções oferecidas. Como em qualquer outro automóvel, o CR-V combina materiais mais agradáveis ao toque com outros menos nobres, mas a robustez transmitida, por exemplo, pelo apoio de braço, não me parece à altura da confiança transmitida pelo nome Honda e do preço pedido.


Botões: sim e não
A marca japonesa continua, e bem, a manter uma consola dedicada à climatização com botões físicos, a solução ideal para evitar distrações exageradas. Por outro lado, complicou bastante os comandos da transmissão e da seleção de modos de condução, com um botão para cada opção e, no caso da “caixa”, de funcionamento pouco intuitivo. Também o infotainment não me convenceu, um sistema pouco cativante e algo confuso, com botões virtuais pequenos que foi, entretanto, substituído por um novo bastante mais agradável de utilizar e já disponível nos modelos de última geração da Honda.

Versatilidade
Espaços de arrumação abundam e complementam a excelente bagageira com quase 500 litros de volume. O rebatimento do banco traseiro pode ser feito a partir da mala e cria-se, assim, um plano de carga ininterrupto ideal para ali colocar objetos longos e pesados. A chapeleira dispõe inclusivamente de um sítio dedicado para ser colocada nestas ocasiões. Duas luzes, uma tomada de 12 Volts e um subwoofer estão também por ali arrumados, contribuindo para a fácil convivência com o versátil CR-V no dia-a-dia.
Para esticar as pernas
As portas traseiras são grandes e contam com um grande ângulo de abertura, diria até, a 90 graus. A acessibilidade e a colocação de cadeirinhas para os mais pequenos saem assim bastante facilitadas. Os lugares laterais oferecem muito espaço livre para a cabeça e para as pernas. Achei o assento demasiado plano, mas a folga é tanta que, esticando-se as pernas, estas ficam bem suportadas. É ainda possível ajustar a inclinação do encosto. Já o lugar do meio é bastante menos cómodo, mas fiquei com a sensação de que há bem pior por aí. O túnel baixo ajuda.


Potência e binário adequados
Debaixo do capot, o CR-V esconde um propulsor híbrido que combina um motor 2.0 litros a gasolina – 145 cv e com funcionamento segundo o ciclo Atkinson – com duas máquinas elétricas, um gerador de potência e um motor elétrico com 184 cv e 315 Nm. O CR-V não dispõe de uma transmissão convencional, recorrendo a uma embraiagem e a um redutor. Porém, em aceleração exigente – 0 a 100 km/h em 8,6 segundos – o seu funcionamento assemelha-se ao de uma transmissão CVT. A velocidade máxima é de 180 km/h.
Como funciona
O sistema pode funcionar segundo três modos, consoante o cenário de condução. O CR-V pode deslocar-se, por breves momentos, em modo 100% elétrico com energia proveniente da bateria. Mas na maior parte das situações, o funcionamento é híbrido, com o motor a gasolina a alimentar o motor elétrico, esse sim, ligado às rodas. Toda a energia excedente é encaminhada para a pequena bateria. Já para ritmos mais elevados, é o motor térmico que faz as rodas girar, ainda que possa ser pontualmente assistido pelos “eletrões”. É possível forçar o modo EV, bem como optar por configurações “ECON” e “Sport”.


Consumo baixo
A eficiência desta configuração está bem patente na média registada durante este ensaio. Não andei a “pisar ovos” e devolvi o CR-V à Honda com uma média de apenas 5,7 litros/100 km, um valor assinalável, considerando os seus quase 1750 kg. E se a capacidade de aceleração não impressiona, também não precisa de o fazer. A sensação de “arrasto” da tal CVT que não está lá só incomoda quando pisamos o acelerador a fundo, o que é raro. Em 95% das situações, é um sistema muito agradável de usar, de funcionamento refinado. As patilhas no volante permitem ajustar a intensidade da travagem regenerativa, mas não chega para conduzir com recurso a apenas um pedal.
Comportamento correto
Dinamicamente, o CR-V não deslumbra, mas a sua competência global não passa despercebida. A suspensão independente às quatro rodas e uma direção bem calibrada são garantia de uma condução segura e suficientemente ágil, com o eixo dianteiro a responder bastante bem ao que lhe solicitei via volante. Mas o foco, e bem, é o conforto. O adornar de carroçaria nunca me pareceu excessivo e a boa capacidade de absorção é ainda complementada pelo perfil adequado dos Dunlop SP Sport Maxx de medida 235/60.



Preço
Este CR-V Black Edition tem um preço muito certo: 50 mil euros. Um número que representa, ou representava, uma barreira psicológica para muitos compradores e que, considerando que este CR-V está em final de vida, pode também ser um obstáculo à sua compra. Por outro lado, e apesar da idade do projeto, das falhas ergonómicas e de alguns materiais de menor qualidade, globalmente, o CR-V ainda consegue mostrar o porquê de ser um modelo extremamente bem-sucedido para a Honda. Convence pela facilidade de condução, pela inquestionável habitabilidade e, acima de tudo, pela eficiência do elaborado propulsor híbrido. Pode estar de saída, mas foi feito para durar.