Renault Clio E-Tech Full Hybrid 145: Híbrido e ainda a referência?
Para aqueles que, como eu, reconhecem a dimensão do impacto dos SUV no mercado sem com isso ficarem muito tentados a aderir ao fenómeno, essa, por vezes, indiferença, fica a dever-se a automóveis como o Clio. É verdade que o Captur é um tremendo sucesso, um moderno crossover urbano, mais espaçoso e versátil do que o Clio e praticamente tão económico como este, mas para pessoas como eu, que cresceram num utilitário como o da Renault, o Clio terá (quase) sempre vantagem.
Por fora
Visto há muito como uma referência no seu segmento, não precisei de muito tempo a bordo da renovada quinta geração para me relembrar porquê. Desde 1990, a Renault já produziu cerca de 16 milhões de unidades do Clio – meio milhão delas para Portugal – e arrisco-me a dizer que o número só não é maior devido ao já mencionado e bem-sucedido Captur. Com estética apenas ligeiramente retocada, o Clio mantém-se muito atual, apostando agora num visual mais tecnológico e dinâmico, para o qual a nova assinatura luminosa muito contribui. Há novos detalhes, claro, mas a “base Clio” mantém-se inalterada. Gosto disso.
E por dentro
O renovado interior do Clio é um dos pontos altos da experiência, mais ainda no caso deste topo de gama Esprit Alpine, um nível de acabamento que combina, e bem, elegância e requinte com dinamismo e desportividade. Os bancos são bonitos e envolventes, com acabamento em meia pele preta e costura azul e o painel do tablier forrado a tecido contribui, também, para as boas impressões nos lugares da frente. Já nos lugares traseiros, o Clio não é a referência em espaço e conforto, mas a sua utilização também não é assim tão limitada. Há quem faça melhor, mas também há quem ofereça menos. A bagageira desta versão híbrida tem 301 litros de capacidade.
Clio: A agilidade de sempre
Ao volante, ainda via o edifício da Renault no retrovisor e já estava a sorrir por dentro. O Clio é, sem dúvida alguma, um dos utilitários mais divertidos de conduzir do mercado. E nem os 150 kg adicionais da eletrificação se fazem sentir quando chegam as curvas, com o Clio a revelar a agilidade de sempre, ainda que, neste ensaio, tenha sentido alguma dureza de amortecimento de que, sinceramente, não me recordava de contatos prévios. Ainda assim, uma dureza que apenas se faz sentir pontualmente e que em nada prejudica o conforto que se espera de um utilitário como o Clio.
Gasta pouco
Debaixo do capot está o complexo, mas eficiente, coração híbrido E-Tech de 145 cavalos. O seu funcionamento – com uma inovadora transmissão sem embraiagem – já foi muitas vezes explicado e não vou por isso repetir-me. Mas tenho de voltar a falar sobre os consumos. Pois para além de serem baixos – média final de 4,8 l/100 km – são fáceis de obter. O Clio esteve sempre alinhado com o ritmo normal do tráfego e foi também submetido a alguns exageros com o pedal da direita sem que o computador de bordo tenha alguma vez superado o número mágico de 5 l/100 km.
E acelerei, pontualmente, por dois motivos: primeiro, porque como acima disse, o chassis do Clio convida. É muito divertido de explorar, revelando um dinamismo que, mesmo sem quaisquer pretensões desportivas, é muito bem-vindo para superar os entediantes trajetos diários. Por outro, para me relembrar de tudo o que também já foi dito sobre o peculiar funcionamento da transmissão multimodo, solução que, em acelerações fortes, revela alguma lentidão de funcionamento. Mas o que raramente é dito é que, no dia a dia, em 99% do tempo que passamos ao volante, a sua atuação é eficaz e discreta, contribuindo para as médias baixas que referi.
Bom e barato? Sim e não
Associar o nome Clio a um automóvel para quase tudo e para todos os dias continua a fazer tanto sentido agora como sempre fez. Continua a ser, com toda a justiça, uma referência do seu segmento, um ícone, por que não. Mas acalmem-se aqueles que pensam que podemos também associar este Clio com motor híbrido a um carro para todos os clientes e respetivas carteiras. Não, isso não. Muito menos tratando-se deste topo de gama.
Tudo porque este eficiente E-Tech sofre com a injusta fiscalidade portuguesa que penaliza o seu motor a gasolina de 1.6 litros de cilindrada, ainda que tenha circulado mais de 60% do tempo em modo elétrico, tenha consumido menos combustível do que um Clio puramente a gasolina e, consequentemente, contribuído para uma menor pegada ambiental. O Clio E-Tech tem um preço base de cerca de 26.000 euros. Este Esprit Alpine “atira-se” para os 28.200 euros. Bom, é, sem dúvida. E podem agradecer à Renault. Barato, isso é que não. Também sabem a quem podem agradecer.