Ensaio Total: Audi Q6 SUV e-tron quattro
O novo Audi Q6 e-tron assumiu recentemente um papel de especial relevância na gama da marca alemã ao ser o primeiro modelo a recorrer à plataforma PPE – Premium Platform Electric – estrutura que partilha, por exemplo, com o novo Porsche Macan. Disponível em quatro versões de motorização distintas, o topo de gama SQ6, as duas versões de tração traseira, base e performance, e a quattro, escolhemos esta última para este primeiro contato dinâmico com o novo Q6.
No mínimo, impactante
Exteriormente, o novo Q6 é um SUV de visual verdadeiramente impactante, principalmente nesta bem-conseguida configuração da pintura Cinzento Magnet com as jantes Audi Sport de 21 polegadas, um opcional de 3.585 euros que preenche bastante melhor os encorpados guarda-lamas do que as jantes de 19 polegadas propostas de série. Neste exemplar com pacote S line, os elementos contrastantes da carroçaria em preto brilhante resultam bem ao conferir uma dose adicional de desportividade e ao esconder, na zona da embaladeira, a elevada altura ocupada pela presença da grande bateria do Q6. Outro destaque estético do Q6 são as luzes traseiras com tecnologia OLED – 1.405 euros adicionais – as quais permitem definir a assinatura de luz pretendida através do sistema de infotainment.


Por dentro, qualidade elevadíssima
No habitáculo, as ótimas sensações são imediatas assim que nos instalamos. Uma seleção cuidada de materiais e uma qualidade de montagem ao nível do que é habitual na Audi assim o permitem. Os bancos – parte integrante do pacote S line interior Microfibra – são garantia de conforto e bom suporte, para além de esteticamente apelativos. Proporcionam, no caso do “piloto” de serviço, uma posição de condução muito boa, a partir da qual a experiência é igualmente dominada pela grande dose de digitalização incorporada no interior do Q6. À já mais comum combinação de dois ecrãs de grandes dimensões – painel de instrumentos e sistema de infotainment MMI experience pro por 4.340 euros – junta-se um terceiro exclusivamente dedicado ao passageiro da frente, cuja imagem não é visível para o condutor quando o Q6 está em circulação. Este terceiro display, tátil, como o central, custa 940 euros e parece-me, na verdade, desnecessário. O entretenimento a bordo deve, a meu ver, ser partilhado, com, por exemplo, boa música e, por que não, uma boa conversa entre companheiros de estrada.


Habitabilidade
As portas traseiras, embora nas fotografias não o pareçam, são suficientemente grandes para garantir uma boa acessibilidade e a bordo a sensação de espaço e conforto é inquestionável, pelo menos para os passageiros dos lugares laterais. Aqui, estes podem contar com centímetros livres mais do que suficientes para os joelhos e a cabeça e o facto de não existir túnel central ajuda também a que o Q6 consiga receber um quinto passageiro no lugar central. Porém, como seria de esperar, o conforto é relativo, o típico “lugar do meio”, com assento e encosto menos hospitaleiros do que os imediatamente ao lado. A bagageira disponibiliza 526 litros de volume útil e é complementada por um espaço adicional debaixo do piso, suficiente para guardar um kit de cabos de carregamento. Nota positiva para o facto de existir um espaço para arrumar a chapeleira caso seja necessário usufruir de mais espaço de carga, bem como para a possibilidade de ajustar a altura da carroçaria a partir da bagageira, facilitando a colocação de cargas mais pesadas.


Abaixo de 20 kWh/100 km é difícil
A carroçaria deste imponente Q6 SUV esconde uma arquitetura elétrica de 800 V composta por dois motores, um por cada eixo, bem como por uma bateria com 100 kWh de capacidade, da qual 94,9% é utilizável. A potência total do sistema é de 387 cavalos e por isso, apesar do peso de 2.445 kg, nunca se sente falta de andamento ao pressionar o acelerador. A Audi declara uma autonomia em ciclo combinado de 618 quilómetros, mas considerando o consumo médio deste ensaio, sempre em torno dos 20 kWh/100 km, uma autonomia real a rondar os 470 quilómetros parece-me mais plausível. A regeneração de energia pode ser controlada através das patilhas no volante, estando ainda disponível um modo automático – muito bem calibrado – bem como um que permite realizar uma condução do tipo “one pedal drive”. Em termos de carregamento, é possível repor o nível de carga até uma potência máxima DC de 270 kW.


Controlo absoluto
Ao volante, a experiência é dominada por uma sensação de total controlo, graças não só ao nível de potência oferecido e à muita tecnologia de assistência que a suporta, mas também pelo trabalho conjunto da muita borracha disponível – Goodyear Eagle F1 Assymetric 3 de medida 255/45 R21 e 285/40 R21, respetivamente, à frente e atrás – e da suspensão pneumática com controlo do amortecimento e da altura de rolamento em função, por exemplo, do modo de condução selecionado e da velocidade. No entanto, apesar da impressionante capacidade de tração e boa agilidade demonstrada por um automóvel de quase 2,5 toneladas, o Q6 e-tron não é um SUV de aspirações desportivas, impressionando, isso sim, pela facilidade com que devora quilómetros, num habitáculo inundado de luz natural pelo grande teto panorâmico e também preenchido pelo sistema de som Bang & Olufsen. É, a meu ver, a ritmos moderados que o SUV da Audi mais brilha.


Este Q6 e-tron custa mais de 100 mil euros
O novo Q6 SUV e-tron está disponível em Portugal a partir de 70.535 euros, sendo que a Audi pede um “pouco mais” por esta versão quattro, mais precisamente 82.930 euros. Infelizmente, no que toca à unidade ensaiada, as contas não ficam por aqui, pois é preciso adicionar uns impressionantes 38.000 euros de equipamento opcional, o que eleva o preço final para os seis dígitos. Deixando de parte esse “pequeno pormenor”, bem como a eficiência relativa de um elétrico que transporta constantemente uma bateria de 100 kWh “às costas”, este Q6, o primeiro modelo de uma nova era de elétricos da marca dos quatro anéis, é um automóvel com o qual é impossível não ficar impressionado, seja pela tecnologia elétrica e eletrónica incorporada ou por argumentos que sempre acompanharam os produtos Audi e a definiram, tais como uma imagem verdadeiramente distinta e apelativa ou o nível de qualidade geral acima da média que “teimosamente” continua a aplicar nos seus automóveis.