Ensaio Total: Polestar 4 Long Range Single Motor
Gosto daquilo em que a Polestar se transformou. Aprecio a imagem de marca, o seu posicionamento de mercado, a forma como comunica e, até ao momento, o único modelo que conhecia de perto, um dos meus elétricos preferidos, o Polestar 2. Alguns (bastantes) meses depois, chegou finalmente o dia de conduzir o Polestar 4, maior, mais dinâmico e arrojado do que o “2”.
Visualmente, sem ser excessivamente revolucionário, o Polestar 4 é um automóvel esteticamente impactante, mas sem exageros (mas as jantes são de 21 polegadas). A Polestar decidiu e, “sem olhar para trás”, aplicou, literalmente, esse lema ao design exterior do seu novo modelo, retirando da abordagem estética do “4” o vidro traseiro. O condutor dispõe por isso de um retrovisor que é, no fundo, um ecrã, alimentado por uma câmara traseira. Porquê? A Polestar diz que a solução melhora o espaço interior e a visibilidade, mas eu diria que foi o estilo que falou mais alto.


E em que segmento encaixa o Polestar 4? Segundo a marca, estamos na presença de um verdadeiro SUV coupé, mas um pouco diferente do que é habitual. A carroçaria é bem mais baixa (1,534 metros), com uma silhueta dinâmica e uma altura ao solo que, ainda que significativa, acaba por não se destacar à primeira vista. O que não passa mesmo despercebida é a sua dimensão, uma “pegada” de 4,84 metros de comprimento por mais de 2 metros de largura, bem como uma distância entre eixos de praticamente 3 metros, antecipando níveis de habitabilidade e conforto elevados.
A bordo do Polestar 4
O ambiente interior é dominado pela habitual abordagem minimalista ao design e pela elevada qualidade dos materiais, ainda que muitos deles tenham origem em matéria-prima reciclada. O design interior não é esteticamente emocionante, mas contribui para a sensação acolhedora de todo o habitáculo, graças ao bom gosto na combinação de cores e texturas, bem como à iluminação ambiente, cujo tom pode ser escolhido de acordo com as cores dominantes dos planetas do Sistema Solar. Outro aspeto de indiscutível qualidade a bordo é o fantástico sistema de som.


O conceito minimalista não estaria devidamente aplicado se o interior não se destacasse também por uma quase total ausência de comandos físicos. No seu lugar, um grande ecrã tátil central de 15,4 polegadas de excelente grafismo e utilização fácil e intuitiva, mas que, como disse, reúne todas (e, assim, demasiadas) funções. O painel de instrumentos é, obviamente, totalmente digital, um ecrã de dimensões inferiores ao do infotainment – 10,2 polegadas – mas que permite uma leitura fácil de todas as informações.
Excelente para viajar
Passando ao banco traseiro, começo por destacar o bom acesso que as grandes portas permitem. A bordo, os passageiros vão encontrar muito espaço disponível para pernas e cabeça, argumento que me parece claramente mais suportado pela grande distância entre eixos do que pela combinação de um enorme tejadilho panorâmico com um ausente óculo traseiro. O encosto conta com regulação elétrica da inclinação e ao centro está disponível um pequeno display que permite controlar funções multimédia, a climatização e o aquecimento dos bancos.


Ao centro, embora espaço não falte, o conforto é limitado pelo encosto muito rijo quando o apoio de braço está recolhido. A sensação indiscutivelmente premium referida na avaliação da zona da frente estende-se ao banco traseiro, onde os materiais e acabamentos espelham os níveis de qualidade percebidos a partir dos lugares dianteiros. A bagageira oferece 526 litros de capacidade, bem como um piso amovível que permite criar duas alturas diferentes de carga. No fundo, está disponível um compartimento de arrumação adicional, complementado ainda pelo “frunk” de 15 litros.


Esta versão Long Range Single Motor está equipada com um motor traseiro de 272 cavalos de potência e 343 Nm de binário. A bateria tem 100 kWh de capacidade e pode ser carregada até uma potência máxima de 200 kW. A Polestar declara uma autonomia máxima possível de 620 quilómetros e a verdade é que os 17 kWh/100 km de consumo registados neste ensaio quase o confirmam, fazendo do “4” uma excelente proposta 100% elétrica apta para as grandes viagens. O conforto de rolamento e a forma fácil como consegue manter velocidade, quase parecendo que não há quaisquer atritos mecânicos em jogo, ajudada, também, pelos “pesados” 2.300 kg, apontam-no às grandes distâncias.
Serenidade absoluta
A serenidade transmitida pelo habitáculo é igualmente refletida pelas sensações da condução. Esta versão não dispõe de amortecimento variável, mas passa bem sem a tecnologia, combinando capacidade de filtragem com um eficaz controlo dos movimentos da carroçaria. Uma vez mais, sente-se que o peso elevado do conjunto é, neste aspeto, benéfico, contribuindo para a excelente sensação de solidez e segurança. O comportamento não pode ser apelidado de desportivo, mas a agilidade revelada é mais do que suficiente, destacando-se, isso sim, a sua enorme estabilidade a velocidades mais elevadas.


Utilizar o Polestar 4 em ambiente citadino exige alguma prática, não sendo esse o seu palco de eleição. Porém, as suas dimensões e o facto de não ter um vidro traseiro acabam por passar para segundo plano ao fim de alguns dias de convivência na cidade, onde os modos de regeneração de energia permitem imobilizá-lo por completo no “para e arranca” e onde a decoração interior, tecnologia e outros elementos de conforto se combinam de forma muito eficaz para nos isolar de todo o ruído, trânsito caótico e, por que não, com esta tão original abordagem de produto, do stress diário a que nos submetemos. Esse é o maior elogio que posso fazer a um automóvel que merece vários, abrandou-me o ritmo quotidiano e levou-me, em estilo, conforto e segurança, onde precisei de ir. Perto, e com esta autonomia, até um pouco mais longe do que o habitual.
Preço base Polestar 4 Long Range Single Motor: 66.700 euros