Nova Iorque a São Francisco por menos de 50 dólares? Em 1997 era possível
Há muitos anos que procuro referências a uma pequena notícia que me lembro de ter lido numa revista de automóveis era eu ainda uma criança. Até há uns dias, lembrava-me de pouco, mas recordava o essencial. Um condutor e um SEAT Ibiza TDI escreveram os seus nomes no livro do Guinness com um recorde de consumo de combustível ao atravessar os Estados Unidos da América. O tema era este. Tenho, certamente, essa revista guardada entre as centenas que acumulo na arrecadação, mas, admito, preciso de organizar a coleção. Não faço a mais pequena ideia em que revista foi, mas “coloco” o Ibiza da notícia entre 1996 e 1999.

Esta semana, de forma perfeitamente aleatória ao percorrer o feed de uma das nossas inevitáveis redes sociais, tive sucesso. Encontrei-a, finalmente. Reconheci, de imediato, a imagem do Ibiza recordista na pequena notícia, com o autocolante SEAT Diesel-Rekord na lateral. Como pano de fundo, o desaparecido World Trade Center, uma imagem, atualmente, plena de simbolismo, mas que há 28 anos não era mais do que uma grande cidade para uma criança de 12 anos fanática por automóveis – em especial pela segunda geração do Ibiza – que não conhecia, nem podia prever, como apenas quatro anos depois tudo mudaria, para pior. Muito pior.
Menos de “3 litros aos 100”
Na fotografia, ao lado do Ibiza TDI está Gerhard Plattner, o “piloto” de serviço do qual também não me recordava, mas que é um nome reconhecido no mundo automóvel pelo seu “pé leve”. Um experiente “hypermiler” que faz a condução eficiente parecer fácil e que encara um desafio destes com o mesmo prazer com que oiço a voz angelical de Sofia Escobar a homenagear o Hino de Portugal. Plattner, de SEAT, de Škoda ou de Porsche, a gasóleo ou a gás natural, era o homem certo para a missão e os números conseguidos em 1997 com este Ibiza 1.9 TDI de 90 cavalos de série são, ainda hoje (ou talvez hoje mais do que nunca), dignos de registo.


Obviamente que também não me recordava do consumo registado, nem tão pouco do preço do combustível necessário para ligar a costa leste à costa oeste. Mas posso agora confirmar que ao longo dos 4.745 quilómetros o Ibiza registou um consumo médio de apenas 2,9 l/100 km. E antes que digam que o Herr Gerhard foi o caminho todo a “pisar ovos”, fiquem a saber que a velocidade média do percurso foi de cerca de 95 km/h e que, pelo meio, ainda atravessou zonas montanhosas, por vezes a uma altura de 2000 metros.
Menos de 50 dólares
Mas nada me preparou para o custo total da viagem, uns estonteantes 46,53 dólares, o equivalente a cerca de 8200 escudos em 1997, valor a que hoje corresponderiam, considerando a inflação, qualquer coisa como 73 euros. Absolutamente inacreditável. Mas isto também significa que, naquela altura, o preço de um litro de gasóleo na terra do tio Sam custava 0,37 cêntimos, o equivalente a 65 escudos. Em Portugal custava 114 escudos, praticamente o dobro. Ou seja, se o Sr. Plattner tivesse abastecido em Portugal, numa bomba da “golpe”, por exemplo, a brincadeira tinha-lhe custado 15.800 escudos, dezasseis “notas de conto”!




Hoje tudo seria diferente, reconheço. Um litro de gasóleo custa, em média, 0,98 cêntimos na terra do tipo cujo tom de maquilhagem inspirou a pintura do Ibiza recordista e por aqui, um litro de “sumo” para os nossos Diesel custa em média 1,55 euros, ou seja, o equivalente a 1,81 dólares à taxa de câmbio atual. Ah, espera lá! Afinal não seria diferente. O custo seria, obviamente, superior. Mas a diferença entre o preço do combustível na costa leste dos Estados Unidos e na costa oeste da Europa continua a ser a mesma. Então se aqui nada mudou, já posso dizer que tenho imensas saudades do meu Ibiza TDI? Nunca gastou 2,9 l/100 km, mas quando dele me despedi, já tinha ido de “Nova Iorque a São Francisco” mais de 80 vezes e, curiosamente, nunca saiu da Península Ibérica.