Para bom entendedor, a sigla basta
Há quem diga que foi ele o primeiro. O “hot hatch” original, o grande “culpado” do surgimento do conceito que tantos fez sonhar – e faz, ainda que cada vez menos, neste mundo em que o automóvel é cada vez mais mal visto pela sociedade – mas também há quem defenda que o Golf GTI de 1976 foi “apenas” o primeiro que conseguiu obter um verdadeiro sucesso junto do público e que outros o antecederam ao chegar ao mercado como um modelo compacto, para todos os dias, mas com cavalos extra debaixo do capot, assumidamente focado no divertimento da condução. Concordo (mais) com o segundo ponto de vista, reconheço.



O Golf GTI pode também não ser o modelo preferido do segmento de tantos outros entusiastas, pois nomes como o Peugeot 205 GTI ou o Renault Clio Williams podem gerar alguma conversa se o tema for eleger o melhor “hot hatch” de sempre. Mas algo que, independentemente das preferências de cada um, é inegável, é a importância desta longevidade de quase 50 anos de GTI, na minha opinião, atualmente, um automóvel quase perfeito para quem deles tanto gosta. Sim, algures ali pelo meio da década de 1990, o Golf GTI perdeu alguma chama. Nunca os guiei, mas considerando a receita dos seus antecessores, faltava algum “tempero” GTI à boa base Golf.

No novo, tudo nas dosagens certas. Gosto do design, desportivo, mas com classe. Gosto da dimensão, suficientemente espaçoso para a família, mas fácil de estacionar. Gosto do motor, potente, mas sem potência que “roce” a irresponsabilidade. E gosto, acima de tudo, que se sinta tão à vontade no quotidiano, fazendo das voltinhas chatas e repetitivas algo verdadeiramente bom, como numa estrada à altura das suas muitas capacidades dinâmicas. Gosto muito de muito do que oferece, já deu para perceber. Até do som, possante, presente, sem convidar a vizinhança a receber-me de cada vez que entro na minha rua (só para fazerem perguntas, nunca para me pedirem satisfações).



Depois do GTI de 245 cavalos, que me pareceu algo “curto” comparado com alguma da sua concorrência, e do GTI Clubsport de 300 cv, potência da qual praticamente não usufruí, encontrei neste Golf de 265 cv, quiçá, o GTI mais equilibrado de todos os que já guiei. Anda muito. Se anda! Não é possível, na via pública, usufruir de tudo o que sabe fazer. Mas a sensação de saber que, ao desfrutar do seu conforto e refinamento, é também possível transformá-lo numa máquina endiabrada, é algo que aprecio. E sendo o único vermelho dos três GTI que guiei, também ganhou pontos adicionais logo à partida, reconheço. Aprecio, também, o interior. Não preciso de tanta digitalização, mas não resisto, por exemplo, aos excelentes (e lindos) bancos.
Algo com que o GTI original nem sequer sonhava poder contar é o sistema de suspensão como o deste exemplar de oitava geração. Este GTI é confortável como um Golf deve saber ser, mas também ágil, divertido e dinâmico, uma combinação que só é possível graças à variabilidade da força de amortecimento, selecionável, lá está, a partir do grande ecrã digital colocado ao centro. O tal que dispenso, mas que, pensando melhor, ainda bem que lá está. Em tempos também diria que sinto falta de um pedal de embraiagem e de uma transmissão manual, mas também não há muito mais a acrescentar à eficácia reconhecida da caixa DSG da Volkswagen.



Prestes a completar 50 anos de vida, a Volkswagen está já a celebrar o seu Golf GTI com o lançamento do EDITION 50, o GTI mais potente de sempre, com 325 cavalos extraídos do motor 2.0 TSI. Começa a ser produzido até ao final do ano e chega aos primeiros clientes no primeiro trimestre de 2026. Porém, não preciso de tanto. Já o disse e repito, entre amigos e entusiastas somos muitas vezes confrontados com a questão do automóvel perfeito para todas as ocasiões. É fácil. Para mim, é este. Até me consigo colocar nesse hipotético cenário: “João, que carro tens?” “Tenho um GTI.” Para bom entendedor, a sigla basta. A não ser que sejas anti automóvel e não o entendas. Para ti, não tenho tempo nem paciência. Adeus.