Ensaio Total: Hyundai Inster Style Plus 49 kWh
Conduzir um elétrico com 300 ou mais cavalos e tração integral é uma experiência curiosa. A disponibilidade imediata da potência cola-nos ao banco, a progressividade da aceleração impressiona e o silêncio quase absoluto continua, por vezes, a parecer-me estranho. Mas muitos deles não são desportivos, são apenas veículos familiares com potência que está lá, mas que raramente se usa. São inúmeros os modelos elétricos deste género disponíveis no mercado. Demasiados até, ao ponto da potência elevada e das acelerações rápidas estarem a banalizar-se.
Foi por aqui que a mobilidade elétrica chegou em força. Nos grandes, pesados, rápidos, caros e, muitos deles, pouco eficientes elétricos. Onde, a meu ver, a mobilidade elétrica automóvel menos faz sentido. Sim, os custos de desenvolvimento, as margens de lucro maiores e uma tecnologia de baterias ainda com muita margem para evoluir a isso “obrigou”. Tudo certo. Tínhamos de começar por algum lado. Eu sei. Mas só agora começam a chegar, em maior número, modelos como este Hyundai Inster. Compactos, com baterias mais pequenas, mais económicos e, assim, mais acessíveis. Conceptualmente, isto sim, tudo certo. E o mercado dos grandes elétricos está a dar-me razão.
Visual cheio de personalidade
O design é outro dos maiores atributos do pequeno Inster, com soluções arrojadas, muitos contrastes e um estilo que aponta, claramente e talvez melhor do que qualquer outro modelo rival, à chamada selva urbana. Combina aquele ar simpático de um automóvel pequeno com a robustez que se espera de um veículo que terá de sobreviver às muitas estradas de calçada, buracos e lombas que abundam nas cidades. Pode até não ser um automóvel bonito para alguns de nós, mas algo que é, a meu ver, inquestionável, é a sua muita personalidade. Este topo de gama Style Plus, com esta combinação de pintura e jantes, é disso um excelente exemplo.


O habitáculo é também ele pleno de originalidade graças a uma conjugação feliz de cores interiores e também ao bonito tecido dos bancos. Não faltam práticos compartimentos de arrumação e soluções de carregamento num ambiente prático e acolhedor que, dadas as dimensões reduzidas do Inster, transmite uma boa sensação de espaço. O assento dianteiro corrido, aliado ao facto da consola central não se prolongar até ao mesmo, dão para isso um bom contributo, assim como o para-brisas mais vertical. Luz natural, ajudada pelas cores claras, não falta a bordo.
Espaço para quatro. A sério
As portas traseiras abrem praticamente a 90 graus, algo que se agradece em termos de acessibilidade e para a colocação de cadeirinhas. Há espaço suficiente para dois adultos, com boa folga para a cabeça, mas também para os joelhos, muito ajudada pela ampla regulação longitudinal. Atrás, destaque para quatro pontos que merecem nota positiva: espaços de arrumação nas portas (pouco comum no segmento); encosto regulável em inclinação; tomada USB-C; janelas que abrem na totalidade. Um pequeno veículo de quatro lugares, com quatro verdadeiros lugares, algo que nem sempre se confirma.


A versatilidade e sentido prático estão, assim, em alta. A modularidade do banco traseiro permite variar o volume da bagageira entre os 280 e os 351 litros e, rebatendo-se os bancos, inclusivamente os dianteiros, cria-se um plano totalmente horizontal que, com um colchão, dá até para transformar o Inster numa pequena caravana. Se for preciso transportar um escadote ou uma prancha, também é possível. A chapeleira é fácil de retirar e debaixo do fundo não falta um compartimento para colocar os cabos de carregamento e o triângulo, garantindo que tudo fica bem arrumado.


Fácil de conduzir
Voltando aos lugares da frente, há que elogiar o facto de a Hyundai ter mantido uma quantidade considerável de comandos físicos, como por exemplo para o controlo da climatização e para os atalhos dos diversos menus do sistema de infotainment. Pontos extra em termos de facilidade de utilização neste aspeto. O painel de instrumentos é totalmente digital, de fácil leitura, e o ecrã tátil central tem, como é habitual na marca sul-coreana, um funcionamento intuitivo, com uma dimensão adequada ao Inster.

A gama do mais pequeno dos Hyundai elétricos é composta por duas combinações de bateria e motor elétrico. Se equipado com a bateria de 42 kWh, o motor elétrico entrega 97 cavalos às rodas da frente, se tiver a bateria maior, com 49 kWh, a potência sobe para 115 cavalos. O binário é igual em ambos, 147 Nm. Esta última, com autonomia em ciclo combinado de 360 quilómetros e de 493 quilómetros em ambiente citadino, é a que tive oportunidade de conduzir, batendo a variante de acesso com autonomias de, respetivamente, 327 e 473 km. Ambas podem ser carregadas numa wallbox até 11 kW de potência, mas as potências máximas DC admissíveis diferem: 73 kW vs. 85 kW.
Um Inster recheado, mas poupado
Comecei por utilizar o Inster maioritariamente em cidade, com constantes entradas e saídas do centro de Lisboa. Fiz uso do modo de condução Eco (Normal, Sport e Snow também disponíveis) e depois de cumpridos os primeiros 100 quilómetros do ensaio, o computador de bordo mostrava uma média de 12,8 kWh/100 km. A função iPedal, para condução com recurso a apenas um pedal, mostrou-se particularmente útil em cidade, tendo dado um bom contributo para a média de consumo baixa, bem como para a agradabilidade de utilização em ambiente urbano. A regeneração pode ser controlada, em cinco estágios, através de patilhas no volante.

Também coloquei à prova o pequeno Inster em percursos em que, muito provavelmente, não será conduzido muitas vezes. Apontei-o a Évora, com lotação esgotada, evitando sempre as autoestradas. Cheguei ao Alentejo com apenas 12,5 kWh/100 km de consumo de energia e aproveitei para testar o carregamento, tendo visto uma potência máxima de carga de 80 kW. Para a viagem de regresso, “tarde e a más horas”, obriguei o pequeno Inster a regressar à capital pela autoestrada, cujas velocidades mais elevadas fizeram a média resvalar para uns menos simpáticos 17,6 kWh/100 km. Após 125 quilómetros percorridos, “perderam-se” 200 de autonomia.
Inster ou Dolphin Surf?
Ao volante, e em ambiente de autoestrada, o ruído aerodinâmico está bem presente, mas também é verdade que esse não é o palco de eleição do Inster. Onde melhor se usufrui das suas qualidades é em cidade, onde o amortecimento combina bem agilidade para fintar o trânsito com conforto para enfrentar bandas sonoras e linhas de elétricos nos centros urbanos. Se os pneus tivessem um pouco mais de perfil, esta filtragem seria ainda melhor. O BYD Dolphin Surf, cujo ensaio podes ler (ou reler) aqui, também cumpre bem este propósito, mas o Hyundai Inster é significativamente mais refinado.

Resta abordar o preço e, porque não, aproveitar a menção do Dolphin Surf para comparar, por exemplo, as versões topo de gama de ambos os modelos. A BYD propõe o seu modelo mais pequeno por 27.990 euros, combinando um motor de 156 cavalos com uma bateria de 43 kWh – que também pode ser carregada a 85 kW – para oferecer uma autonomia em ciclo combinado de 322 km e de 507 km em cidade. Já a Hyundai pede 29.450 euros por um Inster topo de gama como este, menos potente do que o BYD, mas com uma bateria maior e, globalmente, com uma sensação de qualidade que é, efetivamente superior. E o melhor disto tudo? Temos cada vez mais opções de escolha num dos segmentos onde os 100% elétricos realmente fazem sentido.