Ensaio Total: Voyah Courage Exclusive
Nos últimos dois anos, o mercado automóvel tem sido marcado pela chegada regular de novas marcas chinesas. Da BYD à XPeng, passando pela Forthing e Foton, juntou-se recentemente à ofensiva chinesa disponível em Portugal a marca premium Voyah, propriedade da Dongfeng e representada em Portugal pelo Grupo Salvador Caetano.
Este Courage é o primeiro modelo que tive oportunidade de conduzir e com mais de 4,7 metros de comprimento, este SUV é o mais pequeno dos três elétricos que a Voyah comercializa no nosso país. Sim, o mais pequeno. É enorme, eu sei, mas não me enganei. A dimensão exterior causa impacto, talvez até mais do que o design, o qual, embora agradável, é pouco entusiasmante.


O Courage conta, no entanto, com soluções estilísticas originais como as janelas sem moldura, o painel frontal iluminado que se transforma num canal para encaminhar o ar por cima do capot e os puxadores com recolhimento elétrico para ajudar a melhorar a eficiência aerodinâmica. Na traseira, o desenho do terceiro pilar também é dessa originalidade um bom exemplo.
Espaço para todos
A distância entre eixos é de 2,9 metros, sendo esse um dos motivos pelo qual o espaço no banco traseiro é dos melhores com que já me cruzei. E cruzar é algo que os passageiros de trás podem facilmente fazer com as suas pernas. Saídas de ar dedicadas, tomadas de carregamento e um tejadilho em vidro garantem o conforto que se exige num SUV familiar como este.



A bagageira dispõe de 527 litros de volume na sua configuração normal, mas rebatendo-se os bancos o espaço expande-se para mais de 1300 litros. Debaixo do piso existe ainda um compartimento adicional perfeito para guardar os cabos de carregamento.
Passando aos lugares da frente, salta de imediato à vista o estilo minimalista do tablier, onde o único destaque é, na verdade, o ecrã tátil que pode ser deslocado eletricamente para junto do lugar do passageiro dianteiro. Falta, a meu ver, alguma diferenciação a bordo, pois é tudo muito igual ao que já existe no mercado. O painel de instrumentos digital é minúsculo e o volante não é um círculo perfeito. A rever.
Qualidade elevada, mas sem botões
Em termos de materiais, o Courage combina alguns muitos agradáveis ao toque com outros menos nobres e menos dignos do posicionamento premium que a Voyah assume. Mas, de uma maneira geral, o Courage transmite uma sensação de qualidade elevada.
O visual interior sem botões físicos, aprove-se ou não, tem uma inevitável consequência: praticamente todas as funções são controladas a partir do ecrã central. A sua dimensão é adequada e o grafismo tem boa qualidade, mas a quase total dependência do display é, a meu ver, um erro que, infelizmente, tantos cometem. A Voyah é só mais uma marca a fazê-lo.


O sistema inclui funções pouco usuais, sendo possível, por exemplo, usar o Courage para tocar a música de parabéns e assim celebrar um aniversário com direito, inclusivamente, a um espetáculo de luz, cortesia da iluminação do SUV chinês. É também possível reproduzir sons de animais, assobiar e emitir outros sons menos próprios para o exterior, bem como falar a partir do habitáculo para fora graças a um microfone interno. Porquê? Porque sim.
Bom consumo
Este Courage Exclusive utiliza uma bateria de química LFP, de fabrico CATL, com 80 kWh de capacidade e um motor elétrico traseiro com 292 cavalos de potência. A aceleração de 0 a 100 km/h faz-se em 6,9 segundos e a velocidade máxima é de 200 km/h. O consumo declarado pelo fabricante é de 18,9 kWh/100 km e a autonomia em ciclo combinado WLTP é de 476 quilómetros.


Neste ensaio, o computador de bordo mostrou quase sempre valores aproximados ao anunciado pela Voyah, mas não foi difícil levar a média a valores inferiores, na casa dos 16 kWh/100 km, em percursos menos exigentes para o SUV com 2175 kg. Infelizmente, no modo de regeneração de energia mais intenso, não é possível conduzir com recurso a apenas um pedal, função que seria bem-vinda para a condução em cidade.

Ainda que não disponha de um sistema de amortecimento variável, e mesmo equipado com jantes de 20 polegadas, o Courage mostrou-se, quase sempre, muito confortável. Passa bem sem essa “ajuda” e cumpre, sem entusiasmar (não é essa a sua prioridade e o peso elevado faz-se sentir no eixo dianteiro em situações mais “no limite”), na avaliação do comportamento dinâmico.
Gama Courage com duas versões
A gama Courage inclui ainda a versão Luxury, com 435 cavalos e tração integral, mas este Exclusive parece-me ser, sem dúvida, a mais indicada para a maior parte dos clientes nacionais. Considerando o seu posicionamento premium, existem efetivamente detalhes a melhorar, mas a ótima habitabilidade, bom consumo de energia e, acima de tudo, uma extensíssima lista de equipamento de série, fazem deste Courage, pelo qual a Voyah pede cerca de 47.900 euros, uma proposta muito apetecível no segmento D 100% elétrico.