Audi Q2 30 TFSI Advanced – Uma boa surpresa
Lançado originalmente em 2016, eis que apenas seis anos depois tive oportunidade de conduzir o Audi Q2. Já não é um estreante na Garagem, pois o Rafael conduziu-o na sua versão 35 TFSI – num artigo que podes reler aqui – mas regressou para ser colocado à prova com a motorização de entrada, a 30 TFSI, com o pequeno motor 1.0 litros com três cilindros.
Já o disse tanta vez que até enjoa, mas vou dizer mais uma: muito raramente prefiro um crossover ao mais “velhinho” hatchback. Não aprecio conduzir mais alto, é menos eficiente do ponto de vista energético, os pneus, maiores, são mais caros e o espírito aventureiro é, quase sempre, apenas e só isso, uma presença quase espiritual. Porque na prática um moderno crossover não adiciona assim tanta versatilidade de utilização comparativamente a um simples utilitário.
E estilo? Um design distinto? Irreverente? Nem sempre, também. Mas o Audi Q2, sem romper o que está estabelecido nos compêndios do design de um crossover, tem, pelo menos, alguma identidade. É assumidamente um Audi, mas comparativamente aos rivais e demais modelos crossover que por aí vemos, o Q2 não se confunde com nenhum outro. É todo muito angular, com painéis e arestas vincadas que, no seu todo, acabam por lhe dar uma robustez que, de certa forma, aprecio.
Por dentro, apesar de ser não ser um Audi de segmento de luxo, é imediatamente notória a boa qualidade de montagem, com materiais, também eles, de boa qualidade, combinando o que se espera encontrar num segmento mais baixo, mas com o toque premium e rigor habituais da marca. O infotainment acusa a passagem dos anos, mas tem as funções essenciais, bem como atalhos físicos muito práticos na consola.
Já os comandos da climatização são perfeitos, com uma consola dedicada. Voltem a isto, por favor. A colocação do botão do volume/sintonização “atrás” do manípulo da caixa é que não é a ideal. Felizmente podemos usar os comandos no volante, reservando o botão na consola para o passageiro da frente poder fazer “zapping” nas longas viagens. A câmara traseira é extra e o Q2 é pequeno, bem sei, mas acho que devia estar “lá”.
No banco de trás, sem limitar uma utilização diária de uma pequena família, o Q2 acaba por revelar a sua compacidade, claramente pensada para o ambiente citadino. Dois passageiros viajam sem grandes apertos, mas não se pode esperar muito mais daquele que é o segundo modelo mais curto da Audi. A bagageira, com 405 litros, pode até não surpreender, mas a verdade é que o formato regular permite lá transportar muita coisa. O piso amovível é um bónus, algo que muito valorizo pela versatilidade que adiciona.
O pequeno motor 1.0 TFSI de 110 cavalos chega perfeitamente para o Q2. Continuo a considerá-lo um dos melhores propulsores de três cilindros de baixa cilindrada do mercado. Refinado e enérgico, o pequeno “mil” também sabe ser poupado, ainda que o Q2 não seja, de todo, o modelo mais indicado para destacar a sua eficiência, uma vez que não consegui melhor registo que 6,9 lt/100 km de média. Em modelos “não SUV”, já consegui bastante melhor, o que comprova o que acima referi, relativamente à menor eficiência de uma carroçaria mais volumosa e elevada.
O comportamento é seguro e ágil, sem entusiasmar. Também não tem de o fazer, é verdade. A prioridade é o conforto e aí, fiquei contente por conduzir uma unidade com jantes de dimensão adequada e com pneus com um perfil considerável que ajudaram a compensar alguma dureza – nem sempre notória – que senti sobre piso mais degradado. Não há modos de condução, o que também aprovo neste tipo de proposta. É chegar, sentar, conduzir e chegar ao destino em conforto, graças aos comandos leves – pedais, direcção e caixa de velocidades – e à condução fácil que proporcionam. É um produto que não quer parecer ser outra coisa e isso não só é cada vez mais raro, como é bom.
O Audi Q2 já acumula alguns anos de mercado e embora se note, em alguns aspectos, a idade do projecto, não está, de forma alguma, desactualizado. A imagem, análise sempre muito discutível, é para mim um dos seus pontos fortes, com personalidade que o distingue num segmento cada vez mais anónimo. A qualidade tipicamente Audi está lá e o motor 1.0 TSI, ainda que com um consumo ligeiramente superior ao esperado, continua a dar cartas. Mas claro, num mercado de automóveis caros, o Q2 não podia ser barato e este 30 TFSI Advanced está disponível a partir de 34.350 euros, um valor que, à parte dos argumentos do Q2, me custa um pouco aceitar.