Hyundai i20 1.0 T-GDi – Novo ensaio, agora com o motor que interessa
Passar uns dias com este Hyundai i20 não estava previsto na minha agenda de início de 2023, mas foi um inesperado ensaio que já há muito tempo devia ter acontecido. Isto porque tive pouquíssimo contacto com a mais recente geração do utilitário coreano e o que tive foi com uma unidade equipada com o motor 1.2 a gasolina de 84 cavalos, uma mecânica que cumpre, mas que está longe de estar à altura daquilo que são as capacidades dos modernos motores a gasolina de baixa cilindrada.
Assim, ao propor-me conduzir este i20 com motor 1.0 T-GDi, a Hyundai permitiu-me reforçar a minha experiência com um modelo que, assumo, não conhecia muito bem e agora com o motor que, claramente, melhor lhe assenta. São 100 cavalos em vez de 84 e 172 Nm de binário logo às 1.500 rpm em vez de 118 Nm às 4.200 rpm. Isto traduz-se em menos esforço da mecânica, bem como num andamento claramente superior. A caixa de 6 velocidades transmite boas sensações, com um comando leve – como o são a direcção e os pedais – e relações longas.
Uma experiência muito diferente
Os números falam, assim, por si, sendo este motor de três cilindros sobrealimentado bastante mais agradável e fácil de utilizar do que o mais descomplicado atmosférico de quatro cilindros, pelo qual é preciso “puxar” mais para se obter menos do que este “mil” consegue dar. Um maior pulmão que altera por completo a experiência de condução do i20, com um andamento, por exemplo, não só mais adequado às exigências de uma ultrapassagem, como também muito mais à altura daquilo que são as capacidades dinâmicas do chassis, como veremos.
Curiosamente, terminei este ensaio com a mesma média do primeiro ensaio, com ambos os i20, em circuitos em tudo equivalentes, a registar 7,1 l/100 km no computador de bordo. Não é, de todo, um valor mau, mas no segmento há motores equivalentes a este 1.0 Turbo mais poupados. Verdade seja dita, e em defesa do i20, esta unidade do parque de imprensa nacional estava quase à estreia, com o conta-quilómetros a marcar pouco mais de 450 quilómetros.
Condução
Ao volante, o i20 voltou a impressionar pelo seu comportamento dinâmico. Nunca é tão divertido quanto um Fiesta, nem transmite a segurança e estabilidade de um Ibiza, mas a agilidade que revela é capaz de proporcionar bons momentos de condução, sendo um daqueles utilitários que dá gozo levar até umas curvas mais convidativas ou de provocar numa qualquer rotunda deserta. Culpado.
Por outro lado, quem sai prejudicado é o conforto, para muitos condutores um aspecto mais importante neste tipo de proposta e que é influenciado pela firmeza do amortecimento, desnecessariamente firme, diria até. Uma afinação um pouco mais branda seria benéfica para ultrapassar as muitas lombas e buracos do dia-a-dia e pouco ou nada prejudicaria o bom desempenho dinâmico do i20. Os pneus Hankook podem, também, ter algo a dizer neste aspecto.
Espaço atrás e bagageira
Relativamente a praticidade, a bagageira do i20 coloca-o entre os melhores do segmento graças aos 352 litros de volume que oferece. Conta, também, com uma boa acessibilidade, com um plano de carga largo, e dispõe de uma solução engenhosa para guardar a chapeleira junto do encosto do banco. O rebatimento do banco traseiro não permite criar uma superfície ininterrupta, ficando pelo caminho um grande degrau, mas o volume total pode chegar aos 1165 litros. Por ali falta, igualmente, um pneu suplente.
Nos lugares de trás o i20 também passa no teste com nota positiva. As portas abrem imenso, permitindo um acesso fácil a um banco bem desenhado e com bom suporte para as pernas. Considerando a minha posição de condução, consegui sentar-me atrás e ainda manter uns quatro dedos de folga junto dos joelhos e outro tanto de espaço livre para a cabeça. Se a ideia é transportar três passageiros, e apesar do túnel central ser baixo, não se espere encontrar muito conforto. Mas isso está longe de ser um ponto menos bom do i20, sendo transversal a praticamente todos os seus rivais e inclusivamente a modelos do segmento acima.
Mais à frente
Passando aos lugares da frente, é daqui que o i20 revela, a meu ver, algumas fragilidades. Bem sei que não andamos, no dia-a-dia, a testar a suavidade dos materiais, mas a verdade é que o habitáculo do i20 não tem um plástico mais macio ou agradável ao toque. Eu não encontrei. Globalmente, a geração anterior do i20 transmitia, na minha opinião, bastante mais qualidade. Os bancos do condutor e passageiro também merecem ser revistos, pois não têm estrutura ou enchimento suficiente para as viagens mais longas.
Gosto do infotainment da Hyundai. Já o disse e repito-o. Aprovo a presença de botões físicos de atalho, bem como a simplicidade de utilização, com menus claros e intuitivos. A climatização mantém, igualmente, comandos convencionais, muito mais confortáveis do que outras soluções tácteis tão na moda. O painel de instrumentos totalmente digital é, sem dúvida, o grande destaque do tablier, com dois modos de apresentação da informação que replicam os modos de condução normal e desportivo.
Apesar de alguns pontos menos bons, há por ali outros detalhes mais escondidos que denotam cuidado e rigor, como o accionamento dos comandos dos piscas e limpa pára-brisas, dando até, uma sensação premium nos dedos. Gostei. Espaços de arrumação também abundam e o porta-luvas é enorme. A rever: um atalho para desligar o assistente de faixa de rodagem. É muito intrusivo e desligá-lo através do painel digital e após cada ignição, não é simples. Bem sei que é um elemento de segurança, mas poucas foram as vezes que o mantive ligado.
Bom, mas com pontos a melhorar
Este Hyundai não é o utilitário perfeito. Isso é algo que ainda não existe e que também depende daquilo que o cliente mais valoriza, mas existem propostas no segmento que fazem melhor esse papel. Porém, o i20 tem muitos aspectos positivos. Um banco traseiro que não é apenas para fazer número, uma bagageira volumosa e um bom motor a gasolina, ainda que algo gastador perante a sua muita concorrência.
Gostei, também, do dinamismo da condução, mas acho que o i20, enquanto utilitário – que se deseja, usualmente, confortável – é prejudicado pela rigidez da suspensão se o piso não for o melhor. Um amortecimento ligeiramente mais brando, um pouco mais de perfil de pneu para ajudar a absorver irregularidades e uns bancos dianteiros mais confortáveis para complementar a receita.
Estes melhoramentos só vinham beneficiar um automóvel que, no seu conjunto, é bom, mas que precisa, acima de tudo, de materiais de qualidade superior no habitáculo, mais em linha com o segmento e, por que não, com o i30. Preço da unidade ensaiada: 20.860 euros.